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segunda-feira, 26 de agosto de 2013

SINGELO???

14 de Agosto de 2005, uma data histórica para os admiradores de Tex Willer, especialmente os  portugueses. Neste dia de verão em que milhares de lusitanos gozavam as merecidas férias, foi finalmente possível encontrar uma edição produzida em Portugal. A publicidade à colecção BD série ouro, à qual pertence a edição referida, havia se iniciado largos meses antes no jornal correio da manhã, pelo que a expectativa era enorme.
          
Esta colecção, muito semelhante à que a “Panini” lançou em Itália, numa parceria com o jornal “La Republica”, sofreu apenas algumas adaptações relativamente aos personagens a publicar.
Como critérios de selecção dos personagens a publicar, foi tido em conta aspectos como: A popularidade de cada um, a qualidade dos argumentos e o potencial interesse para os portugueses.
Duas curiosidades relativamente a este ultimo aspecto: Tex nunca antes havia sido publicado em Portugal, apesar disso, não deixa de ser um dos personagens mais apreciados pelos amantes da BD portugueses.
A 2ª curiosidade é que tanto Tex, como Dylan Dog e Ken Parker, poderiam ter feito parte da 1ª colecção de BD do correio da manhã, uma vez que constaram numa lista de personagens sugeridas aos responsáveis.
            
Em 1978 foram publicados em Portugal dois personagens da SBE, 1º Zagor e depois Mister No.
O Nº1 de Zagor saiu em Agosto de 1978, curiosamente coincidiu com a saída do Nº1 da editora brasileira Vecchi. A história intitulada “O bom e o mau” corresponde a parte do Nº7 da colecção da Vecchi. As edições portuguesas apenas possuem 48 páginas, com 4 tiras por páginas, equivalente a 64 páginas das edições brasileiras. A colecção portuguesa de Mister No iniciou-se em Dezembro do mesmo ano, no mesmo formato (22x15cm), numero e tiras por página.
Apesar das histórias publicadas nas duas séries, possuírem óptimos argumentos e desenhos, na sua maioria a cargo da dupla: Nolitta&Ferri; O Nº 1 de Mister No corresponde a parte do nº1 italiano. As duas séries tiveram uma vida editorial muito curta: Mister No onze números e Zagor dezasseis.
Resta dizer que foram publicadas pela Editora Portugal Press, sem autorização da casa Bonelli.
            
Em 1981, a revista “Sioux” coloca nas bancas várias histórias retiradas da “Storia del west”, histórias como “Álamo”, “Comancheiros” ou “O grande rio”, tão bem conhecidas dos brasileiros, também foram publicadas em Portugal. Outro personagem da casa de sonhos italiana, Judas, também conhecido por Chacal, igualmente em 1981,foi publicado na revista “Façanhas do oeste”.     Não consegui apurar se estas publicações foram devidamente autorizadas.
O facto destes personagens terem sido publicados em Portugal revela que os editores portugueses estavam atentos ao que se passava em Itália, o que não se percebe é quais foram as razões que os levaram a optar pela publicação de personagens desconhecidos dos portugueses, quando poderiam ter optado por Tex, personagem de maior sucesso da editora e sobejamente conhecido entre nós através das edições da Vecchi, que eram distribuídas em Portugal desde os primeiros números.
            
Acredito que existir em circulação uma revista mensal do personagem, tenha sido uma das principais razões para que não tenham considerado Tex nessa altura. Se pensarmos que Zagor e Mister No foram publicados sem autorização, a repetirem o processo com Tex, entrariam em concorrência com uma editora autorizada, o que não aconteceria com os personagens referidos, pois infelizmente e com muita tristeza minha, estas edições nunca vieram para Portugal. Apesar de já terem passado quase trinta anos, penso que ainda seria interessante saber o porquê das opções dos editores.
            
Vinheta de Galep
Quanto à edição portuguesa de Tex, a história seleccionada “Tex contra Mefisto”, história clássica do personagem em que enfrenta pela segunda vez o seu pior inimigo. Esta aventura publicada pela primeira vez em 1963, apesar de ser uma óptima história que mistura o Western com o sobrenatural e que possui a assinatura dos criadores, não foi na minha opinião a melhor opção para apresentação do personagem aos “leigos”. Para os “fans” do ranger, todas as histórias seriam uma boa escolha para abrilhantar a primeira e única edição portuguesa até aos dias de hoje. Para os apreciadores de BD que pretendiam completar a colecção, “BD série ouro” e não conheciam Águia da Noite, muito dificilmente esta história foi capaz de cativa-los a acompanhar o personagem. Não nos podemos esquecer em que condições esta história foi produzida: Galep desenhava Tex nos seus tempos livres, à noite, com prazos apertadíssimos e em condições de trabalho muito longe das ideais. Também a colorização não favoreceu muito a edição. Reforço a ideia: Para nós os seguidores desde 1971, esta edição foi um prémio e o facto de ser a cores em muito valoriza o prémio.
Devemos estar muito agradecidos a quem tornou esta edição possível, nomeadamente:
Júlio Scheneider, José Carlos Francisco, José Freitas e J. M. Lameiras.
            
Então qual seria a história ideal? Como todas as selecções é difícil escolher uma que gere consenso, assim, a história seleccionada teria que premiar os leitores “jurássicos” e ao mesmo tempo ser apelativa, para ao primeiro impacto, ser capaz de angariar novos leitores do personagem.
Apesar da dificuldade, penso que existem inúmeras histórias que poderiam cumprir estes requisitos, no entanto, a melhor opção teria sido a publicação de duas histórias curtas (cerca de 100 páginas).
Uma primeira história obrigatoriamente dos criadores, com uma narrativa dinâmica e desenhos mais elaborados, por exemplo: “Forte Apache”. A segunda história, uma história recente com a assinatura dos actuais artistas. Qualquer história retirada do “Almanaquo Del West”.
As histórias seleccionadas deveriam ser publicadas como o foram originalmente em Itália, de preferência escolher histórias a preto e branco, pois foi desta forma que o personagem obteve sucesso.
            
Compreendo que houve uma série de limitações que condicionaram a selecção, principalmente presumo eu, financeiros. O facto de esta história ter sido usada na colecção da “Paninni”, também teve muito “peso” na decisão, uma vez que todo o material se encontrava digitalizado, paginado e colorido, apenas havia que traduzir e legendar.
            
A questão que coloco agora é: Para quando uma nova edição portuguesa? Será que os coleccionadores terão de esperar mais 30 anos? Esta edição não passou despercebida a Sérgio Bonelli, ele próprio dedicou-lhe um editorial em Tex Nuova Ristampa Nº148. É irrealista pensar que o mercado de BD em Portugal possa aguentar uma revista mensal, existem diversos problemas que inviabilizam esta opção. Se pensar-mos num livro, com uma boa encadernação e papel de qualidade, as hipóteses de sucesso aumentam drasticamente.
           
No Brasil, apesar do excelente trabalho da Mythos que têm conseguido não só manter, mas aumentar o número de publicações, apesar da crise que a Banda Desenhada atravessa nos últimos anos, a verdade é que à editora têm faltado alguma inovação. As publicações são maioritariamente em formatinho, com mais ou menos páginas e capa cartonada ou não. As excepções são o Tex Gigante herdado da Globo e o Tex e os aventureiros, que infelizmente terminou após seis edições.
Os excelentes álbuns publicados em Itália pela Mondadori, não têm paralelo no Brasil. A Mythos nunca apostou nos livros, ou por impossibilidade de meios técnicos, ou por falta de interesse em atingir esse segmento do mercado, apenas a editora poderá responder.

Parece-me que existe aqui uma lacuna que poderia ser aproveitada por uma editora portuguesa. Fazer o papel que a Mondadori faz em Itália: Publicar aquelas que são consideradas as melhores histórias de Tex, em livros de boa qualidade e transportar o personagem para as livrarias, atingindo assim outra gama de coleccionadores.
            
O mercado português poderá não ser suficiente para este empreendimento, poderá ser necessário alarga-lo, aumenta-lo, tal como faz a Mythos com o mercado brasileiro. Portugal funciona para a Mythos como mais um estado brasileiro, um sector na sua distribuição sectorizada, reduzindo assim o encalhe nas vendas.
Uma editora portuguesa que partisse para este projecto, para obter sucesso teria obrigatoriamente que considerar o mercado brasileiro como parte integrante do português. Penso que tanto a SBE, como a Mythos editora, veriam com bons olhos uma parceria nesse sentido.

A edição seria produzida em Portugal e a Mythos seria responsável pela venda no mercado brasileiro. Considerando que existem cerca de 20000 coleccionadores brasileiros e que cerca de vinte por cento adquiria o livro, adicionando cerca de 5 centenas de exemplares para o mercado português, atingimos os 4500 exemplares. Quantos livros publicados actualmente ultrapassam estes números na primeira edição?
            
É claro que tudo o que aqui foi escrito nos dois últimos parágrafos não está fundamentado e carece de uma análise aprofundada por quem conhece, quer o mercado de BD portuguesa quer o brasileiro. Como leitor e coleccionador não me compete a mim pensar nestes aspectos, apenas gostaria de ver outras histórias do “Ranger” publicadas no meu País e parece-me, pelo que aqui expus, que existe condições para que “Tex contra Mefisto”, afinal não fique...singelo.


NOTA: Dedico esta peça a todos os que colaboraram na produção e edição de “Tex contra Mefisto”, a todos eles o meu muito obrigado.


Fontes:

PS: Texto publicado inicialmente no blogue do Tex em 22 de Maio de 2008


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