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de Agosto de 2005, uma data histórica para os admiradores de Tex Willer,
especialmente os portugueses. Neste dia
de verão em que milhares de lusitanos gozavam as merecidas férias, foi
finalmente possível encontrar uma edição produzida em Portugal. A publicidade à
colecção BD série ouro, à qual pertence a edição referida, havia se iniciado
largos meses antes no jornal correio da manhã, pelo que a expectativa era
enorme.
Esta colecção, muito semelhante à
que a “Panini” lançou em Itália, numa parceria com o jornal “La Republica ”, sofreu
apenas algumas adaptações relativamente aos personagens a publicar.
Como
critérios de selecção dos personagens a publicar, foi tido em conta aspectos
como: A popularidade de cada um, a qualidade dos argumentos e o potencial
interesse para os portugueses.
Duas
curiosidades relativamente a este ultimo aspecto: Tex nunca antes havia sido
publicado em Portugal, apesar disso, não deixa de ser um dos personagens mais
apreciados pelos amantes da BD portugueses.
A 2ª
curiosidade é que tanto Tex, como Dylan Dog e Ken Parker, poderiam ter feito
parte da 1ª colecção de BD do correio da manhã, uma vez que constaram numa
lista de personagens sugeridas aos responsáveis.
Em 1978 foram publicados em Portugal
dois personagens da SBE, 1º Zagor e depois Mister No.
O
Nº1 de Zagor saiu em Agosto de 1978, curiosamente coincidiu com a saída do Nº1
da editora brasileira Vecchi. A história intitulada “O bom e o mau” corresponde
a parte do Nº7 da colecção da Vecchi. As edições portuguesas apenas possuem 48
páginas, com 4 tiras por páginas, equivalente a 64 páginas das edições
brasileiras. A colecção portuguesa de Mister No iniciou-se em Dezembro do mesmo
ano, no mesmo formato (22x15cm), numero e tiras por página.
Apesar
das histórias publicadas nas duas séries, possuírem óptimos argumentos e
desenhos, na sua maioria a cargo da dupla: Nolitta&Ferri; O Nº 1 de Mister
No corresponde a parte do nº1 italiano. As duas séries tiveram uma vida
editorial muito curta: Mister No onze números e Zagor dezasseis.
Resta
dizer que foram publicadas pela Editora Portugal Press, sem autorização da casa
Bonelli.
Em 1981, a revista “Sioux” coloca
nas bancas várias histórias retiradas da “Storia del west”, histórias como
“Álamo”, “Comancheiros” ou “O grande rio”, tão bem conhecidas dos brasileiros,
também foram publicadas em
Portugal. Outro personagem da casa de sonhos italiana, Judas,
também conhecido por Chacal, igualmente em 1981,foi publicado na revista
“Façanhas do oeste”. Não consegui
apurar se estas publicações foram devidamente autorizadas.
O
facto destes personagens terem sido publicados em Portugal revela que os
editores portugueses estavam atentos ao que se passava em Itália, o que não se
percebe é quais foram as razões que os levaram a optar pela publicação de
personagens desconhecidos dos portugueses, quando poderiam ter optado por Tex,
personagem de maior sucesso da editora e sobejamente conhecido entre nós
através das edições da Vecchi, que eram distribuídas em Portugal desde os
primeiros números.
Acredito que existir em circulação
uma revista mensal do personagem, tenha sido uma das principais razões para que
não tenham considerado Tex nessa altura. Se pensarmos que Zagor e Mister No
foram publicados sem autorização, a repetirem o processo com Tex, entrariam em
concorrência com uma editora autorizada, o que não aconteceria com os
personagens referidos, pois infelizmente e com muita tristeza minha, estas
edições nunca vieram para Portugal. Apesar de já terem passado quase trinta
anos, penso que ainda seria interessante saber o porquê das opções dos
editores.
Vinheta de Galep |
Quanto à edição portuguesa de Tex, a
história seleccionada “Tex contra Mefisto”, história clássica do personagem em
que enfrenta pela segunda vez o seu pior inimigo. Esta aventura publicada pela
primeira vez em 1963, apesar de ser uma óptima história que mistura o Western
com o sobrenatural e que possui a assinatura dos criadores, não foi na minha
opinião a melhor opção para apresentação do personagem aos “leigos”. Para
os “fans” do ranger, todas as histórias seriam uma boa escolha para abrilhantar
a primeira e única edição portuguesa até aos dias de hoje. Para os apreciadores
de BD que pretendiam completar a colecção, “BD série ouro” e não conheciam
Águia da Noite, muito dificilmente esta história foi capaz de cativa-los a
acompanhar o personagem. Não nos podemos esquecer em que condições esta
história foi produzida: Galep desenhava Tex nos seus tempos livres, à noite,
com prazos apertadíssimos e em condições de trabalho muito longe das ideais.
Também a colorização não favoreceu muito a edição. Reforço a ideia: Para nós os
seguidores desde 1971, esta edição foi um prémio e o facto de ser a cores em
muito valoriza o prémio.
Devemos
estar muito agradecidos a quem tornou esta edição possível, nomeadamente:
Júlio
Scheneider, José Carlos Francisco, José Freitas e J. M. Lameiras.
Então qual seria a história ideal? Como
todas as selecções é difícil escolher uma que gere consenso, assim, a história
seleccionada teria que premiar os leitores “jurássicos” e ao mesmo tempo ser
apelativa, para ao primeiro impacto, ser capaz de angariar novos leitores do
personagem.
Apesar
da dificuldade, penso que existem inúmeras histórias que poderiam cumprir estes
requisitos, no entanto, a melhor opção teria sido a publicação de duas
histórias curtas (cerca de 100 páginas).
Uma
primeira história obrigatoriamente dos criadores, com uma narrativa dinâmica e
desenhos mais elaborados, por exemplo: “Forte Apache”. A
segunda história, uma história recente com a assinatura dos actuais artistas. Qualquer
história retirada do “Almanaquo Del West”.
As
histórias seleccionadas deveriam ser publicadas como o foram originalmente em
Itália, de preferência escolher histórias a preto e branco, pois foi desta
forma que o personagem obteve sucesso.
Compreendo que houve uma série de
limitações que condicionaram a selecção, principalmente presumo eu, financeiros.
O facto de esta história ter sido usada na colecção da “Paninni”, também teve
muito “peso” na decisão, uma vez que todo o material se encontrava
digitalizado, paginado e colorido, apenas havia que traduzir e legendar.
A questão que coloco agora é: Para
quando uma nova edição portuguesa? Será que os coleccionadores terão de esperar
mais 30 anos? Esta edição não passou despercebida a Sérgio Bonelli, ele próprio
dedicou-lhe um editorial em Tex Nuova Ristampa Nº148. É irrealista pensar que o mercado de
BD em Portugal possa aguentar uma revista mensal, existem diversos problemas
que inviabilizam esta opção. Se pensar-mos num livro, com uma boa encadernação
e papel de qualidade, as hipóteses de sucesso aumentam drasticamente.
No Brasil, apesar do excelente
trabalho da Mythos que têm conseguido não só manter, mas aumentar o número de
publicações, apesar da crise que a Banda Desenhada atravessa nos últimos anos,
a verdade é que à editora têm faltado alguma inovação. As publicações são
maioritariamente em formatinho, com mais ou menos páginas e capa cartonada ou
não. As excepções são o Tex Gigante herdado da Globo e o Tex e os aventureiros,
que infelizmente terminou após seis edições.
Os
excelentes álbuns publicados em Itália pela Mondadori, não têm paralelo no
Brasil. A Mythos nunca apostou nos livros, ou por impossibilidade de meios
técnicos, ou por falta de interesse em atingir esse segmento do mercado, apenas
a editora poderá responder.
Parece-me
que existe aqui uma lacuna que poderia ser aproveitada por uma editora
portuguesa. Fazer o papel que a Mondadori faz em Itália: Publicar aquelas que
são consideradas as melhores histórias de Tex, em livros de boa qualidade e
transportar o personagem para as livrarias, atingindo assim outra gama de
coleccionadores.
O mercado português poderá não ser
suficiente para este empreendimento, poderá ser necessário alarga-lo,
aumenta-lo, tal como faz a Mythos com o mercado brasileiro. Portugal
funciona para a Mythos como mais um estado brasileiro, um sector na sua
distribuição sectorizada, reduzindo assim o encalhe nas vendas.
Uma
editora portuguesa que partisse para este projecto, para obter sucesso teria obrigatoriamente
que considerar o mercado brasileiro como parte integrante do português. Penso
que tanto a SBE, como a Mythos editora, veriam com bons olhos uma parceria
nesse sentido.
A
edição seria produzida em Portugal e a Mythos seria responsável pela venda no
mercado brasileiro. Considerando que existem cerca de 20000 coleccionadores
brasileiros e que cerca de vinte por cento adquiria o livro, adicionando cerca
de 5 centenas de exemplares para o mercado português, atingimos os 4500
exemplares. Quantos livros publicados actualmente ultrapassam estes números na
primeira edição?
É claro que tudo o que aqui foi
escrito nos dois últimos parágrafos não está fundamentado e carece de uma
análise aprofundada por quem conhece, quer o mercado de BD portuguesa quer o
brasileiro. Como leitor e coleccionador não me compete a mim pensar nestes
aspectos, apenas gostaria de ver outras histórias do “Ranger” publicadas no meu
País e parece-me, pelo que aqui expus, que existe condições para que “Tex
contra Mefisto”, afinal não fique...singelo.
NOTA:
Dedico esta peça a todos os que colaboraram na produção e edição de “Tex contra
Mefisto”, a todos eles o meu muito obrigado.
Fontes:
PS: Texto publicado inicialmente no blogue do Tex em 22 de Maio de 2008
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