Com
o anunciado regresso
dos personagens Dylan Dog (DD), Martin Mystiere (MM), Nick Raider (NR) e Nathan
Never (NN) às bancas brasileiras previsto para o final de Inverno, início de
Primavera, 2018 prepara-se para ser um ano magnifico para os apreciadores da
banda desenhada, especialmente para os fãs da gama Bonelli. Além dos aguardados
regressos, a destacar o lançamento de várias edições especiais de Tex, (originadas
pelos 70 anos do personagem), e a manutenção de todas as coleções da gama com
exceção do TEX EM CORES (TC), que foi cancelado.
Adicionalmente, em concorrência com as publicações da Mythos, teremos o
fantástico TEX GOLD da Salvat. O elevado número de publicações previsto para 2018
torna o Brasil no segundo maior mercado Bonelli, somente suplantado pela Itália,
facto surpreendente tendo em conta que o país continua a atravessar uma grave
crise económica, financeira e politica!
As
novas publicações apresentar-se-ão no formato Bonelli, com histórias completas
e selecionadas, pelo que se deduz, sem respeito pela cronologia. Todos sabemos
que existem colecionadores que não apreciam histórias em continuação, pelo que
as opções da Mythos por histórias completas e selecionadas são perfeitamente
compreensíveis, ainda mais justificadas pelo elevado número de aventuras, disponíveis,
que continuam inéditas no Brasil.
No
entanto, atendendo ao elevado número de publicações prevista para 2018, à grave
crise que afeta o povo brasileiro, à concorrência provocada pela Salvat, com o
excelente TEX GOLD que além da excelente qualidade acrescenta um ótimo preço,
poderão estas publicações ter sucesso?
E
a seleção de personagens? Serão estes os mais adequados para lançar? Porque não
Mister No ou, a excelente série, A HISTÓRIA DO OESTE? Quais os critérios de seleção dos personagens
a publicar?
O
formato italiano e o numero de páginas por edição são outras questões
pertinentes! Muitos leitores demonstram a preferência por este formato e,
verdade seja dita, a editora já tentou, sem sucesso, implementa-lo
nas suas publicações. Porque é que esta tentativa há de ser diferente?
Mais
grave, será que estes lançamentos não colocarão em causa publicações como
ZAGOR, ZAGOR ESPECIAL (ZE) ou JÚLIA que em 2013 foram alvo de alterações, à
forma como se apresentam, para se manterem nas bancas?
As
intenções da Mythos são muito ambiciosas e louváveis, mas, aparentemente, a
tomada de decisão é mais ditada pelo coração do que pela razão, senão vejamos:
Em
2012, em entrevista
realizada por Pedro Cleto publicada no blogue do Tex, Dorival Vitor Lopes (DVL)
confidenciou que os títulos da editora que menos vendiam eram ZAGOR, MÁGICO
VENTO (MV) e JÚLIA, que as vendas destes personagens tinham estabilizado, e que
publicar revistas no formato original italiano significaria aumentar muito o
preço de capa. Se considerarmos que nestes últimos 6 anos a conjuntura
económica brasileira piorou drasticamente, que DD, MM, NR e NN já foram
publicados no Brasil
e que foram cancelados, pressupõe-se, por venderem menos que Zagor, MV e Júlia,
que razões é que levam a editora a acreditar que é possível lançar, com sucesso,
as 4 publicações em formato italiano, em datas tão próximas?
O
próprio editor da Mythos reconhece que os colecionadores exigem todo o tipo de
coleções, mas na altura de comprar encontram mil e uma desculpas para não o fazer. O formato, o preço, o papel, por não ser colorido,
por ser colorido, por não respeitar a cronologia, etc.
Em
agosto de 2013 a Mythos procedeu a modificações nas coleções de Zagor e Júlia, dobrando o numero de
páginas por edição e o preço, e alterando a periodicidade para bimestral. Alterações que visavam adaptar/melhorar o sistema
de distribuição, recolhimento e pagamento das revistas, com o objetivo de
melhorar a rentabilidade das mesmas. Considerando que estas alterações visavam
as publicações menos rentáveis, e que as novas publicações a lançar em 2018
vendiam menos, quando publicadas, que ZAGOR, ZE e JÚLIA, e que por este motivo
foram canceladas, não seria mais adequado implementar essas alterações nas
novas publicações?
Em
Março de 2016 a Mythos dirigiu-se aos fãs, num comunicado intitulado “O futuro de Tex e demais personagens
Bonelli no Brasil”, demonstrando grande preocupação com as suas publicações. No
comunicado, DVL informava que ZAGOR, JÚLIA E TEX COLEÇÃO (TXC) tinham entrado
no vermelho, isto é, tinham começado a dar prejuízo juntamente com TC e TEX
GIGANTE COLORIDO e transmitia a ideia de que o futuro das publicações estava
nas mãos dos colecionadores o que gerou uma onda de comentários:
“…. Realmente com a crise que afeta o nosso
país (Brasil) eu mesmo de um ano para cá passei a comprar apenas o Tex
mensal e algumas poucas outras edições, como por exemplo Tex Ouro, Tex
Gigante. …”
“Como
sugestão eu digo que os repetecos com cara de encalhe com capa nova não irão
atrair novos leitores. Por isso acho que deveria enxugar o número de edições
no mercado. ...”
“….
Se a editora pensar logicamente, pensando em lucrar e se sustentar no mercado
sem trabalhar no vermelho, precisa rever algumas coisas. Precisa se organizar. Antes de mais nada deve reduzir a
quantidade de “coleções” de Tex que está indo pra banca. …”
“Eu
tenho comprado regularmente tudo que a Mythos publica de nosso Tex – sou fã
e colecionador há mais de 30 anos. Mas confesso que tenho enfrentado muita
dificuldade para continuar. …”
“.... Reduzir o numero de títulos e
publicar só historias inéditas é uma forma de aumentar as vendas de cada um.
Perante o cenário manifestado, talvez seja a única forma da manutenção, de,
pelo menos, alguns títulos.”
As
sugestões e criticas são muito variadas, mas há uma critica que se destaca pela
quantidade: excesso de publicações à venda! Como se pode observar pelos
comentários já apresentados e que continuam:
“…
diminuir a quantidade de repetecos, estamos vivendo uma época de crise,
isto é um fato e os leitores não tem condições de adquirir todas as edições
que saem nas bancas, …”
“….
Eu acho que existe muito repetecos em Tex, … Como disse o Everton a
editora tem que pensar na sua própria sobrevivência, vai ter repensar. Me
desculpe ai, mas não entendi o porquê deste Tex Platinum, para mim totalmente
desnecessário este lançamento, … Só porque tem um acabamento melhor? Isso não,
dinheiro não dá em árvore.”
“Sou
colecionador há mais de 25 anos. Tenho 14.000 revistas em minha coleção (de
tudo que é estilo). Acho que a Mythos sobrecarregou o mercado com títulos
Tex. Isso pode ser bom pra pessoas que podem comprar tudo, mas não é nada
salutar para um mercado em crise como o brasileiro. Reduzam para o essencial.”
“Disse,
quando não vende cancela, muitos inclusive o Editor foram contra, o que fazer então
se uma revista não está vendendo, a Editora vai bancar os prejuízos pra agradar
os leitores? Os que não querem as
suas revistas canceladas vão pagar um preço 10 vezes a mais pra manter as
revistas em banca? Sou contra pagar esses preços exorbitantes nessas
revistas, …”
Estes
são alguns dos variados comentários de colecionadores que pensam que existem
demasiadas coleções de reedições, eu próprio me identifico com essa posição “….
Em minha opinião existem demasiadas coleções de reedições em publicação,
muitas delas sem qualidade, reduzindo as vendas de todas porque dividem os
poucos colecionadores na hora de comprar, porque são raros os que compram tudo.”
O
editor percebeu que uma das sugestões dadas pelos colecionadores era a redução
das publicações existentes “…. Nos comentários acima, nota-se que quase todos
defendem as coleções que fazem: “Nas minhas vocês não devem mexer, nas outras
que eu não compro, pode.””
O
que é um facto! Grande parte dos leitores não se importa com o cancelamento de
determinadas séries, as que não coleciona! O editor argumenta: “…Como editor eu
tenho que pensar em TODOS os leitores. … As
republicações – que muitos criticam – são importantes para os leitores novos.
…”
Sem
dúvida, as republicações são importantes e devem existir, mas não podem, por
serem demasiadas e por concorrerem entre elas, colocar em causa a existência de
todas. Como referiu Pedro Pereira “…. Diz-se que por vezes é preciso cortar uma
mão para salvar um braço e talvez seja isso que há a fazer: reduzir o número de
publicações!...”.
Confesso
que não compreendo as opções da Mythos! Não as percebi quando lançou TC e
manteve OS GRANDES CLÁSSICOS TEX (OGCT)
em concorrência direta. Não compreendo o excesso de republicações que dividem
as vendas, esmagam as margens de lucro e colocam em causa, porventura, ZAGOR, ZE
e JÙLIA, as publicações que menos vendem. Não compreendo que em época de grave
crise se lancem, praticamente em simultâneo e sem ter conhecimento das vendas
de cada, quatro personagens que quando publicados pela mesma editora,
vendiam menos que qualquer um dos atualmente publicados. Não compreendo que não
se faça uma sondagem aos leitores/compradores sobre os personagens que
gostariam/comprariam.
E não compreendo que as medidas adotadas para rentabilizar ZAGOR, ZE E JÚLIA,
mais precisamente, edições bimestrais e 200 páginas por edição não sejam
utilizadas nas novas publicações.
É
verdade que o lançamento de qualquer publicação, de qualquer personagem, tem
riscos! E também é verdade que o publico em geral não têm acesso aos dados que
possibilitaram a tomada de decisão. Todavia, a difícil conjuntura que o Brasil
atravessa, a concorrência movida pelo TEX GOLD da Salvat, o excesso de
publicações Bonelli nas bancas, os poucos leitores que os novos personagens têm
no Brasil, e o ritmo acelerado com que as novas publicações vão entrar nas
bancas, leva-me a perspetivar que as novas coleções terão uma vida editorial
muito curta, e que a tomada de decisão para os respetivos lançamentos, aparenta
ter, mais de "loucura" empresarial do que audácia editorial.
NOTAS FINAIS:
Nota
1: mais do que criticar a Mythos e seus responsáveis, que considero pessoas
muito competentes, com larga experiencia na área, aos quais a BD e os
colecionadores muito devem, pretendo expressar a minha opinião, e se à algo que
a Mythos não pode ser acusada é de falta de coragem ao lançar 4 coleções na atual
situação.
Nota
2: relativamente às novas publicações, apenas tenciono comprar MM que, em minha
opinião, juntamente com DD, são as únicas que têm algumas probabilidades de
sucesso. A publicação de NN é a menos compreensível, sinceramente acredito que
será cancelada antes do quarto numero e que Mister No ou A HISTÓRIA DO OESTE
teriam maiores probabilidades de sucesso. Do material mais recente da SBE
gostaria que a Mythos publicasse “Le Storie”, aventuras fechadas e
diversificadas.
Nota
3: Não sou contra republicações! Sou contra republicações que dão prejuízo e
que colocam em causa outras publicações pela divisão dos colecionadores na
altura da compra. Se a coleção dá lucro então deve manter-se. Até 2016 comprava
todas as publicações da Mythos da gama Bonelli com exceção de JÚLIA. Parei de
comprar TXC, TEX OURO E TEX EDIÇÃO HISTÓRICA por considerar publicações caras e
por não terem qualidade e nunca comprei TEX PLATINUM. Com referi são demasiadas
publicações e, à semelhança da grande maioria dos colecionadores, não tenho
poder aquisitivo para adquirir tudo o que é publicado pelo que, tenho de fazer
opções.
Nota
4: Não sou a favor do cancelamento se a coleção dá prejuízo! Sou a favor do
cancelamento se a coleção dá prejuízo, reiteradamente, ao longo de um largo
período e sem perspetivas de viabilidade.
REFERENCIAS: